Os estudos nos últimos 15 anos afirmam que a maconha é considerada parte importante no horizonte de lazer dos jovens, que cada vez mais ignoram sua proibição. Tanto é assim que muitos nem sequer a consideram uma droga.
Os efeitos medicinais e euforizantes da maconha são conhecidos há mais de quatro mil anos, mas só no fim do século passado essa substância foi considerado um problema social.
A maconha é a droga ilícita mais consumida e, portanto, a mais produzida no mundo. O número de consumidores cresce a cada dia. Cerca de 1% da população é dependente de Cannabis sativa e 9% já fizeram ao menos uso recreacional uma vez na vida. As crenças, errôneas, de que maconha não faz mal, não produz efeitos deletérios ao organismo e não apresenta sintomas de dependência e/ou abstinência sempre levou seus defensores a não olharem para o real efeito que a substância produz.
Na verdade, a dependência da maconha apresenta-se da mesma maneira que para as outras substâncias: são necessárias quantidades cada vez maiores da droga para produzir o efeito desejado; o uso se mantém apesar das conseqüências; e o usuário tende a evitar lugares onde não se possa estabelecer o consumo, ficando cada vez mais restrito em suas atividades.
Nota-se também que, após o uso, ocorre um estado de maior irritação, agitação e ansiedade, além do aumento de apetite classicamente difundido, o que caracterizaria a abstinência.
A droga age, através de seu princípio ativo, em determinadas áreas do cérebro, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, trazendo assim as reações que os usuários qualificam como prazerosas. O mecanismo de ação certo ainda não é bem definido, mas podemos observar diretamente sua atuação no organismo quando vemos alguém intoxicado por maconha. Vemos os olhos vermelhos, a taquicardia, boca seca, o aumento na percepção de sons e cores e o prejuízo das habilidades motoras. Fica, assim, inegável que a substância possui uma ação no Sistema Nervoso e, portanto, transforma o organismo na vigência do uso.
Diversos relatos indicam que o uso prolongado está relacionado à perda neuronal, com conseqüente atrofia cerebral, aumento da suscetibilidade para crises convulsivas, baixa nos níveis de testosterona e disfunções menstruais, além de diminuição na defesa imunológica. Dentre as conseqüências do uso da maconha, uma delas vem chamando a atenção da comunidade científica, principalmente depois da década de 90: o Transtorno Psicótico Induzido por Cannabis, um quadro psicótico induzido pelo uso da maconha.
A psicose é um estado no qual a percepção da realidade se altera através dos delírios (crença em alguma situação incompatível com a realidade e que não melhora com a argumentação de outros) e das alucinações (alteração da percepção de um dos cinco sentidos). Um indivíduo em quadro psicótico pode, por exemplo, acreditar em coisas ou situações que não existem, como alguém que a persegue ou possuir poderes sobrenaturais. Pode ouvir vozes que nenhuma outra pessoa consegue escutar e que comentam suas ações ou mesmo dão ordens e comandos, sem que qualquer um desses sintomas melhore ou diminua de intensidade com a argumentação lógica.
Juntando as duas informações temos, então, quadros psicóticos causados pelo uso da maconha. Na maioria das vezes ele é reversível após a abstinência, e é esse o quadro que denominamos de Transtorno Psicótico Induzido. Mas, e quando essa reversão não acontece? Neste caso, os fatos são um pouco diferentes e temos que pensar e investigar outros transtornos psicóticos, dentre eles a Esquizofrenia.
Recentemente, alguns artigos da mídia vêem relacionando o uso de maconha com Transtorno Esquizofrênico. Pacientes esquizofrênicos seriam mais sensíveis aos efeitos dessa droga, que poderia até antecipar a manifestação desse tipo de transtorno.
Na medicina, porém, comprovar as evidências clínicas através de estudos científicos rigorosos é condição sine qua non para estabelecermos uma regra. Na verdade, nenhum trabalho foi capaz, ainda, de confirmar a afirmativa que maconha causa Esquizofrenia. Não podemos dizer se pacientes esquizofrênicos são mais predispostos ao uso de maconha ou se a substância causa a doença, ou, ainda, se estamos diante de uma casualidade. Entretanto, toda teoria vem de uma observação clínica. Assim como Newton primeiro viu a maçã cair e depois formulou uma hipótese sobre a gravidade, apenas comprovada posteriormente com experimentos, o que vemos na prática clinica são adolescentes usuários de Maconha com quadros psicóticos cada vez mais precoces e graves, muitas vezes não reversíveis após a abstinência. Ainda que não se possa afirmar que o uso de maconha leve a um Transtorno Esquizofrênico, seu desencadeamento precoce e prognóstico pior parece estar intimamente relacionado ao uso da Cannabis.
Com isso, podemos alertar que alguns casos de transtornos psicóticos podem ser evitados pelo desestímulo do uso da maconha, especialmente em jovens psicologicamente vulneráveis.
Casos de dependência estabelecida ou abuso de maconha devem ser encaminhados para atenção profissional especializada.
Dra. Thaís Zélia dos Santos
(Médica Psiquiatra, CRM-SP 125.720)
Médica graduada pela Universidade de Mogi das Cruzes. Especialização em Psiquiatria pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM). Psiquiatra assistente responsável pelo serviço de Interconsulta da Santa Casa de São Paulo. Médica integrante da equipe do Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID – Hospital Samaritano). Psicanalista em formação pelo Instituto Sedes Sapientie.
Curso preparatório e supervisão com a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva para atendimento clínico de pacientes com TDAH, TOC, Transtornos Alimentares e Transtornos de Ansiedade (2009-2010). Médica psiquiatra da clínica Medicina do Comportamento - São Paulo -, sob a direção técnica da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva.
E-mail: saopaulo@medicinadocomportamento.com.br
Dra. Maya Espinola Foigel
(Psicóloga, CRP 06/83867)
Psicóloga formada pela PUC-SP. Especialista em psicodrama pelo convênio SOPS/PUCSP. Psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Especializada em psicologia jurídica com destaque à área de perícia pelo NUFOR (núcleo de estudos e Pesquisas em psiquiatria forense e psicologia jurídica no IPQ- HCFMUSP). Psicóloga responsável pelo atendimento clínico do AMTIGOS (ambulatório de transtorno de identidade de gênero e orientação sexual no IPQ-HCFMUSP). Experiência profissional com ênfase em Psicologia Clínica, atendendo crianças, adolescentes e adultos, individual e em grupo, atuando principalmente nos seguintes temas: sexualidade, crianças e adultos em grupo de risco. Psicóloga da clínica Medicina do Comportamento – SP, sob a direção da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva e Dr. Diego Amadeu Batista Bragante.
E-mail: saopaulo@medicinadocomportamento.com.br
Fonte: Site “Medicina do Comportamento” – Clique aqui para conferir esta matéria
Nenhum comentário:
Postar um comentário