terça-feira, 5 de julho de 2011

MACONHA E PSICOSE, UM OLHAR MAIS DETALHADO

MACONHA E PSICOSE, UM OLHAR MAIS DETALHADO
Categoria: Maconha e psicose // Autoria: Dra. Thaís Zélia dos Santos e Dra. Maya Espinola Foigel

* Dra. Thaís Zélia dos Santos (Médica Psiquiatra, CRM-SP 125.720) e Dra. Maya Spinola Foigel (Psicóloga, CRP 06/83867)


Os estudos nos últimos 15 anos afirmam que a maconha é considerada parte importante no horizonte de lazer dos jovens, que cada vez mais ignoram sua proibição. Tanto é assim que muitos nem sequer a consideram uma droga.



Os efeitos medicinais e euforizantes da maconha são conhecidos há mais de quatro mil anos, mas só no fim do século passado essa substância foi considerado um problema social.



A maconha é a droga ilícita mais consumida e, portanto, a mais produzida no mundo. O número de consumidores cresce a cada dia. Cerca de 1% da população é dependente de Cannabis sativa e 9% já fizeram ao menos uso recreacional uma vez na vida. As crenças, errôneas, de que maconha não faz mal, não produz efeitos deletérios ao organismo e não apresenta sintomas de dependência e/ou abstinência sempre levou seus defensores a não olharem para o real efeito que a substância produz.



Na verdade, a dependência da maconha apresenta-se da mesma maneira que para as outras substâncias: são necessárias quantidades cada vez maiores da droga para produzir o efeito desejado; o uso se mantém apesar das conseqüências; e o usuário tende a evitar lugares onde não se possa estabelecer o consumo, ficando cada vez mais restrito em suas atividades.



Nota-se também que, após o uso, ocorre um estado de maior irritação, agitação e ansiedade, além do aumento de apetite classicamente difundido, o que caracterizaria a abstinência.



A droga age, através de seu princípio ativo, em determinadas áreas do cérebro, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, trazendo assim as reações que os usuários qualificam como prazerosas. O mecanismo de ação certo ainda não é bem definido, mas podemos observar diretamente sua atuação no organismo quando vemos alguém intoxicado por maconha. Vemos os olhos vermelhos, a taquicardia, boca seca, o aumento na percepção de sons e cores e o prejuízo das habilidades motoras. Fica, assim, inegável que a substância possui uma ação no Sistema Nervoso e, portanto, transforma o organismo na vigência do uso.



Diversos relatos indicam que o uso prolongado está relacionado à perda neuronal, com conseqüente atrofia cerebral, aumento da suscetibilidade para crises convulsivas, baixa nos níveis de testosterona e disfunções menstruais, além de diminuição na defesa imunológica. Dentre as conseqüências do uso da maconha, uma delas vem chamando a atenção da comunidade científica, principalmente depois da década de 90: o Transtorno Psicótico Induzido por Cannabis, um quadro psicótico induzido pelo uso da maconha.



A psicose é um estado no qual a percepção da realidade se altera através dos delírios (crença em alguma situação incompatível com a realidade e que não melhora com a argumentação de outros) e das alucinações (alteração da percepção de um dos cinco sentidos). Um indivíduo em quadro psicótico pode, por exemplo, acreditar em coisas ou situações que não existem, como alguém que a persegue ou possuir poderes sobrenaturais. Pode ouvir vozes que nenhuma outra pessoa consegue escutar e que comentam suas ações ou mesmo dão ordens e comandos, sem que qualquer um desses sintomas melhore ou diminua de intensidade com a argumentação lógica.



Juntando as duas informações temos, então, quadros psicóticos causados pelo uso da maconha. Na maioria das vezes ele é reversível após a abstinência, e é esse o quadro que denominamos de Transtorno Psicótico Induzido. Mas, e quando essa reversão não acontece? Neste caso, os fatos são um pouco diferentes e temos que pensar e investigar outros transtornos psicóticos, dentre eles a Esquizofrenia.



Recentemente, alguns artigos da mídia vêem relacionando o uso de maconha com Transtorno Esquizofrênico. Pacientes esquizofrênicos seriam mais sensíveis aos efeitos dessa droga, que poderia até antecipar a manifestação desse tipo de transtorno.



Na medicina, porém, comprovar as evidências clínicas através de estudos científicos rigorosos é condição sine qua non para estabelecermos uma regra. Na verdade, nenhum trabalho foi capaz, ainda, de confirmar a afirmativa que maconha causa Esquizofrenia. Não podemos dizer se pacientes esquizofrênicos são mais predispostos ao uso de maconha ou se a substância causa a doença, ou, ainda, se estamos diante de uma casualidade. Entretanto, toda teoria vem de uma observação clínica. Assim como Newton primeiro viu a maçã cair e depois formulou uma hipótese sobre a gravidade, apenas comprovada posteriormente com experimentos, o que vemos na prática clinica são adolescentes usuários de Maconha com quadros psicóticos cada vez mais precoces e graves, muitas vezes não reversíveis após a abstinência. Ainda que não se possa afirmar que o uso de maconha leve a um Transtorno Esquizofrênico, seu desencadeamento precoce e prognóstico pior parece estar intimamente relacionado ao uso da Cannabis.



Com isso, podemos alertar que alguns casos de transtornos psicóticos podem ser evitados pelo desestímulo do uso da maconha, especialmente em jovens psicologicamente vulneráveis.



Casos de dependência estabelecida ou abuso de maconha devem ser encaminhados para atenção profissional especializada.





Dra. Thaís Zélia dos Santos


(Médica Psiquiatra, CRM-SP 125.720)



Médica graduada pela Universidade de Mogi das Cruzes. Especialização em Psiquiatria pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM). Psiquiatra assistente responsável pelo serviço de Interconsulta da Santa Casa de São Paulo. Médica integrante da equipe do Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID – Hospital Samaritano). Psicanalista em formação pelo Instituto Sedes Sapientie.


Curso preparatório e supervisão com a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva para atendimento clínico de pacientes com TDAH, TOC, Transtornos Alimentares e Transtornos de Ansiedade (2009-2010). Médica psiquiatra da clínica Medicina do Comportamento - São Paulo -, sob a direção técnica da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva.




E-mail: saopaulo@medicinadocomportamento.com.br

Dra. Maya Espinola Foigel


(Psicóloga, CRP 06/83867)



Psicóloga formada pela PUC-SP. Especialista em psicodrama pelo convênio SOPS/PUCSP. Psicanalista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Especializada em psicologia jurídica com destaque à área de perícia pelo NUFOR (núcleo de estudos e Pesquisas em psiquiatria forense e psicologia jurídica no IPQ- HCFMUSP). Psicóloga responsável pelo atendimento clínico do AMTIGOS (ambulatório de transtorno de identidade de gênero e orientação sexual no IPQ-HCFMUSP). Experiência profissional com ênfase em Psicologia Clínica, atendendo crianças, adolescentes e adultos, individual e em grupo, atuando principalmente nos seguintes temas: sexualidade, crianças e adultos em grupo de risco. Psicóloga da clínica Medicina do Comportamento – SP, sob a direção da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva e Dr. Diego Amadeu Batista Bragante.




E-mail: saopaulo@medicinadocomportamento.com.br


Fonte: Site “Medicina do Comportamento” – Clique aqui para conferir esta matéria


segunda-feira, 4 de julho de 2011

DISTIMIA


Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

* Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva (Médica Psiquiatra, CRM/RJ 5253226/7 e CRM/SP 113.092-S)

O que é Distimia?



O termo distimia significa etmologicamente "mal-humorado" mas na psiquiatria é a denominação de uma doença. É um tipo de depressão crônica do humor que não ocorre em episódios (é contínua), tem menor gravidade do que as chamadas "depressões maiores" e traz sofrimento e prejuízo significativos para o paciente. São aquelas pessoas que "vivem com uma nuvem negra acima da cabeça" (é normal que eventualmente estejamos mal-humorados ou tristes, mas não sempre!).



Nos EUA estima-se que 3,2% das pessoas ao longo da vida sejam acometidas por esta doença.




Quando começa?



Geralmente inicia-se no final da adolescência, mas pode começar mais tardiamente (depois dos trinta anos) ou na infância.




Do que a pessoa se queixa?



A pessoa se queixa de sensação de cansaço, baixa energia ou fatigabilidade, "depressão", preocupação, insônia ou excesso de sono, aumento ou diminuição do apetite, baixa auto-estima, diminuição da concentração ou indecisão, perda de interesse ou do prazer e desesperança.


Como evolui?



Geralmente começa na adolescência insidiosamente e permanece de forma crônica, não tendendo a remitir espontaneamente. A intensidade dos sintomas pode oscilar, e pode haver períodos curtos de remissão dos sintomas.




Como é feito o diagnóstico?



O diagnóstico é essencialmente clínico (exame psíquico e história da doença), isto é, não há exames laboratoriais que possam auxiliar. Obviamente, como na maioria das doenças psiquiátricas, por ser um diagnóstico de exclusão, devem ser pesquisadas doenças clínicas que podem causar síndromes depressivas.



O humor deve ser deprimido na maior parte do dia, com mais dias de humor deprimido do que sem, por um período de pelo menos dois anos. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável e a duração de pelo menos um ano.



É muito comum que as pessoas com esta doença procurem outros especialistas com queixas físicas como dificuldade para dormir, dores e fadiga, não valorizando os sintomas relacionados mais diretamente com a tristeza, pois pensam que isto é normal, já que sempre tiveram este comportamento ou "personalidade" e pensam que isto não é algo tratável.




Existe tratamento? Como fazer?



Sim. Sabe-se que o uso de antidepressivos é capaz de eliminar os sintomas distímicos.



A psicoterapia também é útil como adjuvante no tratamento.



É de vital importância esclarecer ao paciente que, como em todo o tratamento com antidepressivos, há um tempo de latência de 2 a 8 semanas para que se percebam os efeitos benéficos, pois o abandono do tratamento é muito comum já que caracteristicamente o paciente tende a ser descrente e desconfiar da possibilidade de melhora ou cura.




O tratamento é por toda vida?



Não. A partir do momento em que há melhora completa dos sintomas recomenda-se continuidade do tratamento por um período de um a dois anos para prevenir possíveis recaídas.




Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva


Médica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora técnica das clínicas Medicina do Comportamento do Rio de Janeiro e em São Paulo, onde faz atendimento aos pacientes e supervisão dos profissionais de sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.


Livros Publicados:

Mentes Inquietas - TDAH: Desatenção, hiperatividade e impulsividade [Publicação revista e ampliada]

Mentes e Manias: TOC: Transtorno Obsessivo-compulsivo [Publicação revista e ampliada]

Sorria, você está sendo filmado (em parceria com o publicitário Eduardo Mello)

Mentes Inquietas: Compreender o distúrbio do défice de atenção (DDA) // Editado em Portugal

Mentes Insaciáveis: Anorexia, bulimia e compulsão alimentar

Mentes com Medo: Da compreensão à superação

Mentes Perigosas: O psicopata mora ao lado

Bullying: Mentes perigosas nas escolas

Mentes Peligrosas: Un psicópata vive al lado // Editado na Argentina

Mentes Peligrosas: Un psicópata vive al lado // Editado no México



E-mail: anabeatriz@medicinadocomportamento.com.br

Fonte: Site Medicina do Comportamento – Clique aqui para conferir esta matéria